sábado, 28 de novembro de 2009

A moda, a mulher e a poesia


O Ronaldo Fraga sempre encontra um jeito de trabalhar com poesia em seus desfiles,mesmo quando trabalhou com temas barra pesada como Presidiários, lá estava ele despejando no coração dos fashionistas ávidos por emoção a água da sua fonte que parece (graças a Deus)não secar nunca. Quem conhece o trabalho dele sabe do que estou falando, inclusive já estampou poesias do Carlos Drummond em suas roupas há algumas temporadas.
Também amo poesia e sou aficionado por Cecília Meireles (com um l só).Recentemente recebi uma dessas poesias de um amigo querido,e no contexto me emocionou muitíssimo e não consigo tirar da cabeça os tais versos. Consigo perceber relações com as várias caras que uma mulher pode ter ao longo de sua vida, não só física, mas principalmente psicológica, e numa dessas relações está a moda, pelo seu já decretado caráter fugaz, mas também pela nossa necessidade dela no reinventamento de nossa pessoa.Ei-la:

Mulher ao Espelho/
Hoje, que seja esta ou aquela,/
pouco me importa./
Quero apenas parecer bela,/
pois, seja qual for, estou morta. /
Já fui loura, já fui morena, /
Já fui Margarida e Beatriz,/
Já fui Maria e Madalena. /
Só não pude ser como quis./
Que mal faz, esta cor fingida/
do meu cabelo, e do meu rosto,/
se tudo é tinta: o mundo, a vida,/
o contentamento, o desgosto?/
Por fora, serei como queira,/
a moda, que vai me matando./
Que me levem pele e caveira/
ao nada, não me importa quando./
Mas quem viu, tão dilacerados,/
olhos, braços e sonhos seus,/
e morreu pelos seus pecados,/
falará com Deus./
Falará, coberta de luzes,/
do alto penteado ao rubro artelho./
Porque uns expiram sobre cruzes,/
outros, buscando-se no espelho.

Cecília Meirelles